Tem várias inseguranças dos meus 20 anos que eu poderia trazer aqui. Ser especialista x generalista, empreender x ser freela, atividade física x se sentir desconfortável em ambientes esportivos, não ter estilo no vestir x criar meu “próprio estilo”.
Não vou entrar em todos eles, porque não quero te alugar por tanto tempo. Acho até que esse assunto, os 30+, vai abrir meu próximo podcast com a Gabi, pois sentimos algumas coisas parecidas e diferentes quando o assunto é esse começo de maturidade - vamos chamar assim.
Mas tem dois pontos que a gente pode conversar hoje: o primeiro e o terceiro. O segundo vou pular, porque acho que ainda estou com ranço da instituição empreendedorismo. De tudo que ele virou, do que as pessoas se tornaram para ocupar esse lugar e de alguns sentimentos ainda não elaborados, que ainda vai levar um tempinho pra eu conseguir colocar em palavras que não ofendam toda uma categoria.
Ser especialista x generalista é um assunto que volta e meia me faz uma visita. Eu já assisti um TedTalk falando que “o futuro é dos generalistas” (?), já conversei com diferentes pessoas sobre o assunto e todas especialistas achavam incrível essa habilidade de não se agarrar a uma coisa só, mas o que me deu um pouco de paz mental - junto com a passagem dos 20 anos - foi essa facilitação gráfica.
Nela a autora começa perguntando algo simples: você gosta de executar todo o processo dessa atividade (no caso, social media, mas a gente pode usar o raciocínio para outras áreas)? Se você optar pelo sim, tá tudo bem ser generalista, estar um pouquinho em cada etapa do fazer. Se a resposta for não, ela sugere algumas atividades específicas para ver até onde vai o interesse pela execução.
Olhando para esse desenho me dei conta que eu gosto de conhecer um pouquinho de tudo, de saber fazer um pedacinho de cada coisa - mesmo algumas delas não ficando muito boas. Pode ser que isso seja um reflexo do empreendedorismo (não vou falar sobre ele), onde a gente precisa, com pouco dinheiro, aprender rápido várias coisas e se virar como dá.
Pode ser, também, que seja eu colocando em prática os anos da minha adolescência em que ouvia a minha mãe dizendo que eu precisava saber fazer um pouco de tudo, para quando eu estivesse em uma posição de liderança, soubesse como demandar e entendesse as tarefas que os times fariam (visionária ela, achando que eu seria empreendedora. Não vou falar sobre isso).
Do meu ponto de vista generalista, acho muito louco escolher uma área e ficar só nela. Tem tanta coisa pra gente aprender, conhecer, que me parece meio chato ser especialista. Ao mesmo tempo, fico pensando que eu não serei reconhecida por nada, porque não tem um algo para ser colocado embaixo da minha assinatura de email ou do cartão de visitas imaginário.
Tu faz o que, então? Depende, tu quer saber o que paga as minhas contas ou o que me dá prazer? No que eu acho que sou boa ou do que eu sei fazer?
Complexo, né? Mas hoje em dia, o que não é? Me parece que tudo que vale a pena ficar umas horas falando, ouvindo ou escrevendo sobre, parte de um assunto com camadas que a gente tenta organizar com o pouco que sabe ou entende.
Talvez ser generalista seja sobre isso: um interesse contínuo em conhecer as diferentes camadas do fazer. A gente poderia dividir algumas delas com outras pessoas, mas geralmente não o fazemos, porque nós ou o cliente não tem dinheiro/ tempo. Viu, voltamos ao complexo.
O segundo assunto que eu trouxe na minha lista de inseguranças falava sobre a minha dificuldade em praticar esportes. Nesse assunto eu sei que existem muitas pessoas que se conectam, que querem muito fazer uma atividade física, mas não conseguem começar.
O que me dei conta recentemente, conversando com algumas amigas sobre a única coisa hoje que me faria voltar a empreender (o que não faz nenhum sentido), é como os ambientes onde praticamos esportes não são convidativos.
Quando eu consegui voltar a patinar e a fazer musculação, percebi que a primeira ocupava um lugar incrível e muito difícil de encontrar, que era de uma atividade que envolvia diversão e não castigo. Eu vou patinar, porque o tempo para naquela pista com crianças e adolescentes, onde eu volto a ter 8 anos e posso só me preocupar com como eu faço pra virar meu pé sobre rodas sem passar a aula inteira com a bunda no chão.
Ir na academia é um outro rolê. Lembro, inclusive, que teve um dia que eu cheguei pra treinar e comentei com a recepcionista que tinha sido muito difícil o caminho até ali. Eu fiquei o dia inteiro me perguntando se eu queria ir, se não tinha outra coisa melhor ou mais importante pra eu fazer - o que sempre tem. Quando chegou a hora, os 15 minutos caminhando até lá foram uma tristeza. Tem tanta coisa mais legal pra se fazer, por que eu estou indo puxar uns ferros? Eu vou usar essa força toda pra que?
Lá dentro eu não sofro tanto, apesar de sempre ser um pouco desconfortável malhar com pessoas muito diferentes de mim. E aqui vou me abster do estereótipo hetero top que a gente já conhece.
Lembro, inclusive, de como eu me senti desconfortável quando, pela primeira vez, em pleno verão, fui malhar com meu sovaco cabeludo. E se algum daqueles brutamontes comentasse algo em voz alta? Ou então, de ir com a minha camiseta confortável escrito feminista. Será que eu vou ser hostilizada?
Olha as coisas que a gente tem que pensar antes de sair de casa pra fazer algo que a gente nem quer tanto, mas que precisa pra não ficar tão ansiosa ou sentindo que não tem energia pra nada?
Eu ainda acho que o ambiente influencia muito nessa sensação de desconforto, mas percebo que tem outro ponto que se soma a isso tudo: a nossa ainda presente percepção de que a mente é mais importante que o corpo.
Já falei um pouco sobre isso nessa news e cito o podcast perfeito do Imposturas Filosóficas pra quem quiser se aprofundar mais.
No caso da mente aqui, quero falar sobre o tempo que dedicamos para o trabalho - que é basicamente a maior fatia das horas dos nossos dias. Se a gente tem algo do trabalho para fazer é muito “mais fácil” abrir mão da atividade física. Afinal, o que você malharia hoje pode treinar amanhã.
O que eu percebi quando tomei essa decisão recentemente, de ir malhar em um dia com trabalho acumulado, é que a decisão de me colocar em segundo lugar eu já conhecia muito bem. E, aos poucos, isso vai se tornando algo tão comum que continuar indo na musculação deixa de fazer sentido. Por que pagar se eu não estou conseguindo ir?
Mas será mesmo que eu não estou conseguindo ir ou eu estou colocando o trabalho e outras demandas relacionadas na frente do meu bem-estar? Assim como o treino vai estar amanhã me esperando para fazê-lo, o trabalho também vai ficar me esperando. Então, por que o trabalho não pode ficar pra amanhã?
Não vejo uma resposta simples pra isso. Muito provavelmente o neoliberalismo tenha alguma participação aqui, também. Meu ponto é: como seria se a gente invertesse um pouco essa balança e se colocasse acima do trabalho? Como seria se o trabalho ficasse para depois?
| Compartilhados do mês
~ Já que eu falei do Imposturas Filosóficas, vou indicar outro episódio recente que eu adorei. O nome dele é “aprender mudando o mundo”, conversinha em que os Rafaeis cruzam filosofia com psicologia. Anotei uma frase que me impactou muito: ‘Liberdade é encontrar os limites’. Foda, né? Poderia escrever outra news só sobre isso 🔥
~ Li recentemente dois livros in cri veis. Ambos de escritoras latinas, o que fez meu coração palpitar a cada expressão que eu identificava como nossa.
A primeira foi um presente de uma amiga, que leu minha news anterior onde eu falava que queria me aproximar da Isabel Allende. Eis que começo por Violeta e me apaixono completamente. Ela conta a história de uma mulher que vive 100 anos, passa por duas pandemias e conhece diferentes tipos de dor e de amor.
O segundo foi uma escolha sem saber muito sobre a autora, mas que me impactou completamente. O parque das irmãs magníficas, de Camila Sosa Villada, escritora travesti argentina, é um dos livros autobiográficos mais cheios de magia que eu já li. O jeito que ela escreve te faz sentir os diferentes gostos de ser travesti na América Latina.
~ Já me perguntei algumas vezes quanto tempo ainda vai levar pra começarem a fazer filmes sobre os livros do escritor japonês Haruki Murakami, mas parece que essa missão é mais difícil do que a gente gostaria. Os live action não dariam conta da dimensão surrealista do que ele coloca no papel, então, seria a animação a resposta? Blind Willow Sleeping, de Pierre Foldes, dá um gostinho do que vem por aí nesse trailer que já me deixou surtada (Indicação da news Galaxia).
~ Não sei se vocês estão acompanhando as conversas sobre Nepo Babies, os filhos de pessoas ricas e famosas que acabam perpetuando seu lugar na sociedade através de, como o nome sugere, nepotismo. Pensando assim, não teriam sido os nepos alguns dos responsáveis pela história da humanidade? Vem ler esse texto do New Yorker e ficar chocada comigo (Indicação da news Galaxia).
~ Já imginou como seria o nosso país se, do nada, houvesse uma pandemia que dizimasse mais da metade da população masculina? É sobre isso que fala a mini-série Ooku (Netflix), só que o país é o Japão e a pandemia aconteceu há muitos anos atrás, impactando diretamente como se organizavam os papéis de gênero. Recomendo fortemente pra quem gosta de animes :)
~ Para não dizer que faz tempo que eu não indico k-dramas, meu novo queridinho é Dra. Cha. Ele é bem levinho, pra gente esquecer da vida por uma hora. Conta a história de uma dona de casa que muda completamente a sua vida depois de passar por uma situação de vida ou morte. Trata sobre assuntos bem delicados para o Coreia como casamento, traição, divórcio e os direitos das mulheres nas separações de bens.
~ Outra delicinha violenta é Cães de Caça (Netflix), pra quem gosta de boas lutas e reviravoltas. Ele conta a história de dois boxeadores profissionais que acabam se juntando com um ex-mafioso para lutar contra um novo mafioso que é muito do mal. Quando eu acho que já vi todos os tipos possíveis de tortura, vem o k-drama e me mostra novos. Ah, e temos closes (raros no k-drama) de peitorais malhados bem do jeitinho que a gente gosta 🫰🏼
~ Pra fechar, queria dar uma dica bem aleatória, mas que pode servir pra quem estiver precisando. Comprei recentemente um novo demaquilante que estou amando! Ele é naquela versão que não precisa usar algodão: você passa ele direto na cara e ele vai desmanchando a maquiagem. Além de ser ótimo e retirar produtos a prova dágua, não precisamos usar sabonete ou hidratante depois, porque ele já deixa a pele pronta. Perfeito sim ou sim? Pra completar, depois que acabar a gente pode comprar só o refil <3 Conheçam o demaquilante em óleo da Bioré (marca japonesa sem defeitos).
amei amei amei e amei <3