Esses dias estava lendo uma entrevista do meu integrante favorito do BTS* e ele, apesar de ser extremamente bem sucedido, falava bastante sobre fracasso, sobre diversas inseguranças que ele tem a respeito de si mesmo. Coisas que também apareciam nas entrelinhas da conversa - inclusive vulnerabilidades específicas relacionadas à voz, à aparência, ao resultado do próprio trabalho.
Como fã (aqui do meu cantinho do mundo achando ele absolutamente perfeito) admiro a despretensão dele como artista. Isso pode ser, também, porque simpatizei com a enorme pressão que deve vir com esse tipo de visibilidade: imagino que os erros fiquem maiores e mais assustadores com tantos olhos te observando.
Fiquei pensando sobre esse assunto, como isso é tão humano - nossa familiaridade com a frustração e o fracasso - não importa quão incrível ou confiante você seja.
Às vezes pode até parecer que estamos individualmente condenados a sofrer situações constrangedoras, confusões, desacertos, mas essa é, provavelmente, a característica que absolutamente nos une: ninguém escapa dos insucessos, por mais que tente esconder, por mais difíceis de identificar que eles sejam.
Acho que muita gente prefere varrer suas histórias pra debaixo do tapete. Mas a vida é como uma balança que está sempre tendendo ao desajuste, os imprevistos acontecem: se tudo está sob controle na vida profissional, alguma coisa se desarruma nos relacionamentos, vice versa e assim por diante.
Isso ocorre mesmo para aqueles que calculam todas as variáveis, os cautelosos que buscam a perfeição, simplesmente porque ninguém tem como se certificar das próprias limitações antes de alcançá-las.
Nossos erros com freqüência nos pegam pelo calcanhar.
A única solução pra isso é não tentar. Definir objetivos tão confortáveis que anulem qualquer possibilidade de decepção. Imagina? Nunca mais ter que se expor ao ridículo, à perda, ao coração partido, à derrota?
Desconfio que não seja possível, por mais que você se esforce. E pior, nessa tentativa, a gente vai diminuindo o alcance da própria experiência, fazendo cada menos, descobrindo menos também da nossa força e capacidade.
Eu já colecionei várias vergonhas e vários, vaaarios, nãos. Meus e de outros. Momentos em que eu não estava confiante, estava emocionalmente despreparada ou simplesmente ainda não era boa o bastante.
E às vezes me peguei prestando atenção na história de outras pessoas, que acertaram de primeira coisas que eu demorei pra entender - coisas que eu ainda sigo tentando. Pessoas que aprendem mais rápido, que tem mais capacidade, mais facilidade, mais sorte, ou o que quer que seja.
Quanto mais amadureço, no entanto, menos isso me interessa. Contemplo mais, e até com um certo orgulho, as minhas próprias escolhas… inclusive as que não foram tão bem sucedidas.
Tenho descoberto um novo prazer nessa disposição em ir atrás de algo. Mesmo quando é arriscado, quando os outros não acreditam, quando eu mesma não estou tão confiante.
Ir adiante, continuar e fazer uma coisinha depois da outra, seguir em frente. Nunca fui muito boa com definir objetivos claros porque os objetivos abstratos, subjetivos, me pareciam mais fáceis de perseguir (ou talvez menos fáceis de fracassar?). Mas tenho melhorado nisso também: avaliar o meu próprio avanço objetivamente, sem mascarar a falha nem diminuir o que consegui.
Quem sabe um dia a gente possa se felicitar pelos fracassos conquistados? Quer dizer, se estamos tentando… estamos buscando algo para além da nossa capacidade de agora, não é?
Deve ter um segredo muito importante aí, tenho certeza :D
Beijos, se quiserem seguir falando sobre o assunto é só responder esse email.
Se não, se cuidem, se esforcem bastante, nos falamos de novo em dezembro.
// O trechinho da entrevista que acabou nesse texto, da GQKorea: “Eu acredito que ninguém consegue definir seus próprios limites. Embora eles existam, você não tem como entendê-los antes de chegar até eles. Por isso que eu completamente acredito na coragem e esforço que é necessário para apostar em si e seguir em frente. O ato de definir um curso para si mesmo e se mover adiante, através dos próprios esforços, é extraordinário por si só” *Jiminie //
Muito legal a reflexão, e concordo muito que por mais que estejamos familiarizados com o fracasso, a gente realmente não fala sobre e quer esconder! Quando fracassei profissionalmente foi solitário e difícil. Como pouco se fala, as pessoas parecem não querer te ouvir, mudam de assunto, ou reduzem o peso dele dizendo apenas 'ah, vc aprendeu, cresceu...' Enfim, decidi começar uma news e falar sobre isso por esta razão. :)